29 de ago. de 2013

Afetos não se apagam



Nathan sempre sonhara ser médico. A vida lhe pediu que desistisse de seu sonho.

Cedo precisou auxiliar a sustentar seus pais e irmãos. E cada vez seu sonho se tornava mais distante.

Décadas depois viu seu neto, pelo qual tinha um carinho especial, apresentar a mesma vontade.

Mas Nathan morreu quando o menino tinha apenas nove anos de idade. Aos 23 anos, Kevin mantinha o sonho sempre mais forte. Queria ser médico, curar as pessoas.

Como seus pais iriam pagar a faculdade era uma incógnita. O curso era muito caro. Eles eram corretores de imóveis e faziam o possível para fechar o maior número de negócios.

Certo dia, o pai de Kevin viu, no jornal local, o anúncio de alguém que queria vender uma casa.

Embora não costumasse entrar em contato com quem anunciava por sua própria conta, algo o fez telefonar.

Os donos tinham anunciado diretamente, desejando vender a casa, sem a necessidade de pagamento de comissão a corretores.

Mas acabaram marcando com o pai de Kevin uma visita para que ele conhecesse a casa.

Agendaram para a terça-feira. Quando Sherman falou com a esposa a respeito, ela o lembrou que ele tinha um compromisso anteriormente marcado.

Sherman ligou para os donos da casa e mudou a visita para a segunda, às quinze horas.

Mais tarde, eles tornaram a telefonar pedindo que ele fosse na segunda, mas pela manhã, às 11 horas.

Quando chegou ao local, Sherman descobriu que aquela casa tinha sido habitada pelos seus sogros, 15 anos antes.

Comentou isso com os proprietários mas, antes que continuassem a conversar sobre a estranha coincidência, a campainha tocou.

Era o carteiro.

Sherman ouviu o casal informar:

Não. Ninguém chamado Nathan Stein mora aqui...

Sherman se levantou rápido da cadeira e gritou: Era meu sogro!

Com as devidas explicações ao carteiro, conseguiu que a carta lhe fosse entregue, mediante assinatura de recebimento.

Era um informativo de um banco a respeito de uma conta corrente em nome de Nathan. Dizia que tal conta seria fechada em breve se ninguém a viesse reclamar, pois estava sem movimentação há anos.

O valor? Quinze mil dólares!

Sherman, sua esposa e seu filho tiveram, logo, a certeza. Fora Nathan que, de alguma forma, do mundo espiritual, envidara esforços para que ele estivesse lá, naquele momento.

Fui levado até lá no momento certo, disse Sherman. Meu sogro desejava que seu neto tivesse o dinheiro para pagar o primeiro ano da faculdade.

E a filha, mãe de Kevin, tem certeza de que seu pai que sempre cuidou dela, continua a cuidar até hoje.

* * *

A morte, de forma alguma rompe os laços do amor. Da espiritualidade, os nossos amores prosseguem a velar por nós.

Pais se esmeram no cuidado aos filhos que permaneceram na carne. Filhos, esposos, amigos têm os olhos voltados para nós, abençoando-nos ainda com seu afeto especial.

Com os Imortais aprendemos que os bons espíritos fazem todo o bem que lhes é possível. Sentem-se ditosos com as nossas alegrias.

Afligem-se com os nossos males, quando os não suportamos com resignação, porque então nenhum benefício tiramos deles.

Eles se compadecem dos nossos sofrimentos, como nos compadecemos dos de um amigo.

Assim, os bons Espíritos nos levantam o ânimo no interesse do nosso futuro.

Os parentes e amigos que nos precederam na outra vida, por nos votarem afeição, nos protegem como Espíritos, de acordo com o poder de que disponham.

Eles, como nós, são muito sensíveis aos sentimentos de amor e afeição.



Redação do Momento Espírita, com base em texto do livro
Mensagens de amor e amizade de Yitta Halberstam e
Judith Leventhal, ed. Butterfly e nos itens 484 a 488a de
O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb.
Em 09.02.2009.

Advinha quanto eu te amo



Era hora de ir para a cama e o coelhinho se agarrou firme nas longas orelhas do coelho pai.

Depois de ter certeza de que o papai coelho estava ouvindo, o coelhinho disse: Adivinha o quanto eu te amo!

Ah, acho que isso eu não consigo adivinhar. - Respondeu o coelho pai.

Tudo isto. - Disse o coelhinho, esticando os braços o mais que podia.

Só que o coelho pai tinha os braços mais compridos, e disse: E eu te amo tudo isto!

Hum,isso é um bocado, pensou o coelhinho.

Eu te amo toda a minha a altura. - Disse o coelhinho.

E eu te amo toda a minha altura. - Disse o coelho pai.

Puxa,isso é bem alto, pensou o coelhinho. Eu queria ter braços compridos assim.

Então o coelhinho teve uma boa ideia. Ele se virou de ponta-cabeça apoiando as patinhas na árvore, e gritou: Eu te amo até as pontas dos dedos dos meus pés, papai!

E eu te amo até as pontas dos dedos dos teus pés. - Disse o coelho pai balançando o filho no ar.

Eu te amo toda a altura do meu pulo! - Riu o coelhinho saltando de um lado para outro.

E eu te amo toda a altura do meu pulo. - Riu também o coelho pai, e saltou tão alto que suas orelhas tocaram os galhos da árvore.

Isso é que é saltar! - Pensou o coelhinho. Bem que eu gostaria de pular assim.

Eu te amo toda a estradinha daqui até o rio. - Gritou o coelhinho.

Eu te amo até depois do rio, até as colinas. - Disse o coelho pai.

É uma bela distância, pensou o coelhinho. Mas, àquela altura já estava sonolento demais para continuar pensando.

Então, ele olhou para além das copas das árvores, para a imensa escuridão da noite e concluiu:Nada podia ser maior que o céu.

Eu te amo até a lua! - Disse ele, e fechou os olhos.

Puxa, isso é longe - falou o papai coelho - longe mesmo!

O coelho pai deitou o coelhinho na sua caminha de folhas, inclinou-se e lhe deu um beijo de boa-noite.

Depois, deitou-se ao lado do filho e sussurrou sorrindo: Eu te amo até a lua... Ida e volta!

* * *

E você, já disputou alguma vez com seu filho quem gosta mais um do outro?

Geralmente as disputas são em torno de questões como quem joga futebol melhor, quem corre mais, quem vence mais etapas no vídeo game, quem coleciona mais troféus, etc.

A vida atarefada, o corre-corre, os inúmeros compromissos, por vezes nos afastam das coisas simples, como sentar na cama ao lado do filho e lhe contar uma história, enquanto o sono não vem.

Acariciar-lhe os cabelos, segurar suas mãozinhas, fazer-lhe companhia para que se sinta seguro.

Deitar-se, sem pressa, ao seu lado quando ele vai para a cama, falar-lhe das coisas boas, ouvir com ele uma melodia suave para espantar os medos que, tantas vezes, ele não confessa.

Falar-lhe do afeto que sentimos por ele, do quanto ele é importante em nossa vida. Dizer-lhe que um anjo bom vela seu sono e que Deus cuida de todos nós.

E se você pensa que isso não é importante, talvez tenha esquecido das muitas vezes que arranjou uma boa desculpa para se aconchegar ao lado do pai ou da mãe, nas noites de temporal...

* * *

Se, às vezes, é difícil se aproximar de um filho rebelde, considere que a sua rebeldia pode ser, simplesmente, um apelo desajeitado de alguém que precisa apenas de um colo seguro e um abraço de ternura.



Redação do Momento Espírita com base no livro Adivinha quanto eu te amo, de Sam Mcbratney, ed. Martins Fontes.
Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed. Fep.
Em 31.01.2011.

Advertência



Existem jóias raras na literatura mundial, por vezes até de autor considerado anônimo. Há alguns dias, em uma obra, colhemos a seguinte advertência, exatamente nesses moldes de que falamos:

Um dia chegará em que, num determinado momento, um médico comprovará que meu cérebro deixou de funcionar e que, definitivamente, minha vida neste mundo chegou ao seu fim.

Quando tal coisa acontecer, não digas que me encontro em meu leito de morte.

Estarei em meu leito de vida e cuida para que esse corpo seja doado para contribuir de forma que outros seres humanos tenham uma vida melhor.

Dá meus olhos ao desgraçado que jamais tenha contemplado o amanhecer, que não tenha visto o rosto de uma criança ou, nos olhos de uma mulher, a luz do amor.

Dá meu coração a alguma pessoa cujo coração só lhe tenha valido intermináveis dias de sofrimento.

Meu sangue, dá-o ao adolescente resgatado de seu automóvel em ruínas, a fim de que possa viver até poder ver seus netos brincando ao seu lado.

Dá meus rins ao enfermo, que deve recorrer a uma máquina para viver de uma semana à outra.

Para que um garoto paralítico possa andar, toma toda a totalidade de meus ossos, todos os meus músculos, as fibras e os nervos todos de meu corpo.

Mexe em todos os recantos de meu cérebro. Se for necessário, toma minhas células e faze com que se desenvolvam, de modo que, algum dia, um garoto sem fala consiga gritar com entusiasmo ao assistir a um gol, e uma garotinha surda possa ouvir o repicar da chuva contra o vidro da janela.

O que sobrar do meu corpo, entrega-o ao fogo e lança as cinzas, ao vento, para contribuir com o crescimento das flores.

Se algo tiveres que enterrar, que sejam os meus erros, minhas fraquezas e todas as minhas agressões contra o meu próximo.

Se acaso quiseres recordar-me, faze-o com uma boa obra e dizendo alguma palavra bondosa ao que tenha necessidade de ti.

* * *

As palavras de advertência desse anônimo nos convidam a meditar no tesouro que possuímos, que é nosso corpo físico.

Tantos esquecemos de render graças a Deus por essa maquinaria maravilhosa, tanto quanto nos olvidamos de lhe providenciar, após a morte física, o devido destino.

Tantas são as campanhas em prol da doação de córneas, de rins e vamos protelando sempre para mais tarde a decisão de prescrever nossa doação.

Sem nos esquecermos de que, enquanto ainda dispondo do corpo de carne, podemos nos tornar regulares doadores do valioso líquido, que representa a vida e se chama sangue.

Meditemos se não estamos sendo demasiado egoístas em não disponibilizar esse tesouro para que outros vivam e vivam de forma abundante.

* * *

A retirada das córneas, após a morte, de forma alguma deforma ou mutila o cadáver. Essa é a preocupação de alguns possíveis doadores, que não desejam agredir a família.

Os rins podem ser retirados do cadáver até seis horas após ter ocorrido a morte.

Para o Espírito do doador não ocorre mutilação, ao contrário, tais atitudes revelam desprendimento e grandeza d'alma.

Redação do Momento Espírita com base no texto
Em minha lembrança, de autoria anônima.
Em 05.02.2009.

Adversidades



Ela era uma garota que vivia a se queixar da vida. Tudo lhe parecia difícil e se dizia cansada de lutar e combater.

Seu pai, que era um excelente cozinheiro, a convidou, certo dia, para uma experiência na cozinha.

Tomou de três panelas, encheu-as com água e colocou cenouras em uma, ovos em outra e pó de café na terceira.

Deixou que tudo fervesse, sem nada dizer. A moça suspirou longamente, imaginando o que é que seu pai estava fazendo com toda aquela encenação.

Tudo fervido, o pai colocou as cenouras e os ovos em uma tigela e o café em outra.

O que você está vendo? Perguntou.

Cenouras, ovos e café, respondeu ela.

Ele a trouxe mais perto e pediu que experimentasse as cenouras. Ela notou como as cenouras estavam macias.

Tomando um dos ovos, quebrou a casca e percebeu que ele estava duro.

Provando um gole de café, a garota sentiu o sabor delicioso.

Voltou-se para o pai, sorriu e indagou:

O que significa tudo isto, papai?

É simples, minha filha. As cenouras, os ovos e o café, ao enfrentarem a mesma adversidade, a água fervendo, reagiram de formas diferentes.

A cenoura entrou na água, firme e inflexível. Ao ser submetida à fervura, amoleceu e se tornou frágil.

O ovo era frágil. A casca fina protegia o líquido interior. Com a água fervendo, se tornou duro.

O pó de café, por sua vez, é incomparável. Colocado na água a ferver, ele mudou a água.

Voltando-se para a filha, perguntou o homem experiente:

Como é você, minha filha? Quando a adversidade bate à sua porta, você reage como a cenoura, o ovo ou o café?

Você é uma pessoa forte, decidida que, com a dor e a adversidade, se torna frágil, vulnerável, sem forças?

Ou você é como o ovo? Delicada, maleável, casca fina que, com facilidade, se rompe. Ao receber as agruras de um desemprego, de uma falência, a morte de um ser querido, um divórcio, se torna dura, inflexível?

Quanto mais sofre, mais obstinada fica, mais amarga se torna, encerrada em si mesma?

Ou você é como o café? Ele muda a água fervente, a coisa que está trazendo a dor, para conseguir o máximo de seu sabor, a cem graus centígrados.

Quanto mais quente a água, mais gostoso se torna o café, deliciando as pessoas com o seu aroma e sabor.

Se você é como o pó de café, quando as coisas vão ficando piores, você se torna melhor e faz com que as coisas em torno de você também se tornem melhores.

A dor, em você, tem o condão de a tornar mais doce, gentil, com capacidade de melhor entender a dor alheia.

Afinal de contas, minha filha, como você enfrenta a adversidade?

* * *

A dor pode ser comparada ao instrumental de um hábil escultor.

Com destreza e precisão técnica, ele toma de uma pedra dura como o mármore, por exemplo, e pacientemente a transforma em uma obra de arte, para encanto das criaturas.

A beleza da pedra só aparecerá aos golpes duros do cinzel, na monotonia das horas intermináveis de esforço e trabalho.

Assim como a pedra se submete à lapidação das formas para se tornar digna de admiração, somente os corações que permitem à dor esculpir sua intimidade, adquirem o fulgor das estrelas e o brilho sereno da lua.



Redação do Momento Espírita, com base em
texto de autoria ignorada.
Em 10.7.2013.

Adversário da felicidade



Eles formavam um casal harmônico. Jovens e belos desfilavam pelas ruas de mãos dadas e sorrisos nos lábios.

Tudo parecia lhes sorrir. Profissionais liberais, administravam sua agenda de forma que a profissão não lhes tomasse todas as horas.

Escoavam os meses e se reprisavam os anos de gentilezas, traduzindo carinhoso afeto.

Até que um dia, um cliente mais ousado tomou atitudes indevidas e, embora fosse rechaçado com firmeza pela jovem esposa, o esposo se encheu de ciúmes.

A partir de então, o relacionamento começou a deteriorar. Ele se tornou frio para com ela. Os diálogos amigos se transformaram em monossílabos forçados.

Ela passou a agasalhar mágoa no seu coração.

Finalmente, optaram pela separação. A pedido dela, ele saiu de casa. Agora se encontravam somente no campo profissional, pois trabalhavam no mesmo local.

As noites solitárias começaram a se tornar intermináveis e ele passou a sentir a falta dela. Analisou os motivos da separação e descobriu que havia sido muito infantil. Resolveu pedir desculpas e retornar ao lar.

Em uma noite, decidiu que, ao se erguer pela manhã, iria até uma floricultura, compraria lindas flores e as remeteria para a sua amada.

Escolheu versos cheios de amor para esconder entre o ramalhete delicado:

Alma gêmea da minh'alma.

Flor de luz da minha vida.

Sublime estrela caída das belezas da amplidão.

És meu tesouro infinito.

Juro-te eterna aliança.

Porque eu sou tua esperança.

Como és todo o meu amor.

Adormeceu pensando em como se ajoelharia aos seus pés, confessando-lhe o amor que sentia.

Quando amanheceu o dia, vestiu-se, perfumou-se e foi até a frente da casa. Então, se sentiu um tolo romântico.

E se ela não o perdoasse? E se ela não estivesse disposta a reatar o relacionamento?

Afastou-se. Durante todo aquele dia a ideia não lhe saía da cabeça. Afinal, ela estava ali, tão perto, trabalhando na outra sala. Não encomendou as flores. Mas leu e releu os versos que escrevera. Chegou a noite, cheia de estrelas.

O quarto de hotel parecia sufocá-lo. Saiu, comprou flores, escreveu os versos em lindo cartão e se dirigiu para a casa dela.

A passo acelerado, foi chegando. Tinha na mente, para sair pelos lábios, todas as frases de perdão e juras de amor.

Com o coração em descompasso, bateu à porta. A empregada atendeu chorosa e vendo-o, apontou para o interior da sala.

A jovem tivera um problema cardíaco e morrera. As flores que ele levava serviram para lhe adornar o caixão. Mas os versos que ele fizera, esses ele não poderia jamais declamar aos seus ouvidos. Era tarde demais...

* * *

O ciúme é perigoso adversário. Tem a capacidade de destruir relações afetivas, ferindo os que a ele se entregam.

Se você já se permitiu dominar por ele, pense em quanto já perdeu em oportunidades de ser feliz. Quantas vezes se tornou frio, agressivo. Quantas vezes magoou e se sentiu magoado.

E tome uma decisão imediata. Abandone esse sentimento e retorne às fontes generosas do amor. Só quem ama é feliz e faz os outros felizes.

Redação do Momento Espírita, com reprodução de versos
extraídos do cap. 4, pt.2, do livro Há dois mil anos, pelo
Espírito Emmanuel, psicografado por
Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 12, ed. Fep.
Em 24.03.2010.

Adoração a Deus



Em seu Evangelho, o apóstolo João relata, com sentimento e poesia, o encontro de Jesus com a mulher samaritana.

No longo diálogo, percebe-se que Jesus conhece a intimidade daquela alma sofredora e perturbada, enquanto ela mesma somente aos poucos vai se dando conta da condição de Jesus, à medida que ouve Suas palavras.

Acredita-O um profeta. Mas Israel tinha tantos profetas.

No desdobramento das falas, o Mestre lhe informa acerca da verdadeira adoração ao Criador, que dispensa lugares geográficos, mas que busca o íntimo das criaturas.

A mulher ouve e entende, mas não consegue perceber a autoridade naquelas palavras.

É como se ela pensasse: o que Tu me dizes é interessante, é importante mesmo, mas aguardo o Messias, o Cristo, que virá, e, quando Ele vier, nos anunciará todas as coisas.

* * *

Muitos de nós somos como a samaritana. Guardamos as palavras de Jesus na memória, sem Lhe darmos o verdadeiro crédito, como à espera de uma confirmação.

Contudo, os ensinos de Jesus seguem claros e disponíveis a todos os que os queiram entender em Espírito e Verdade.

Para o Cristo, a adoração ao Pai não é importante se dê aqui ou ali, em algum templo luxuoso, em lugar minúsculo ou em plena natureza.

Em síntese, a alma humana também compõe a natureza, e é a alma humana a que tem condições de pensar em Deus.

Por isso mesmo, não há lugar mais apropriado para a adoração ao Criador do que a intimidade do ser.

Para adorar a Deus não há necessidade de nada material: nem símbolos, nem flores, nem velas, cânticos ou palavras. Nem mesmo posturas especiais.

Basta o coração que sente e a mente que pensa, fechando o circuito entre a criatura e o Criador.

* * *

Porque a samaritana esperasse a chegada do Messias, para tudo confirmar, o Mestre apresentou-Se a ela não como mais um profeta de Israel, mas como sendo o próprio Messias esperado com tanta ansiedade: Eu o Sou, Eu que falo contigo.

Especial momento aquele, de insuperável sublimidade.

Jesus é assim mesmo: o Caminho da verdadeira vida.

Quando nos demoramos em dúvidas, ou quando damos passos indecisos, Ele se mostra de diversas maneiras, em nossas existências, afirmando-Se o Cristo de Deus, o Messias.

Eu o Sou, Eu que falo contigo.

E os que temos ouvidos de ouvir, podemos perceber-Lhe a voz terna, assegurando-nos o constante ensino.

* * *

O episódio de Jesus com a samaritana, ocorreu num mês de dezembro ou janeiro.

No Seu diálogo, Jesus selou o ensino acerca da verdadeira adoração ao Pai com estas palavras: Virá a hora em que adorareis ao Pai, não neste monte, nem em Jerusalém, mas em Espírito e Verdade, pois Deus é Espírito e os que O adoram, em Espírito e Verdade é que devem adorá-Lo.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 14 do livro
Quem é o Cristo?, pelo Espírito Camilo, psicografia de
J.Raul Teixeira, ed, Fráter.
Em 19.06.2009.

Adolescer



É frequente, hoje em dia, nos depararmos com pais de jovens que dizem estarem surpresos com a conduta que seus filhos vêm tomando perante a vida.

Relatam que eles não têm responsabilidade com os compromissos escolares e nem limites nos relacionamentos, desrespeitando colegas, professores e os próprios pais.

Transformaram-se em jovens que desobedecem as regras de convivência social e que faltam com a verdade em diversas situações.

Esses pais se mostram indignados com as atitudes de seus filhos adolescentes. Por vezes, os adjetivam com o termo aborrecente, referindo-se a alguém que causa aborrecimentos.

* * *

Adolescer é crescer, brotar, fazer-se grande.

Então, é natural que na adolescência surjam comportamentos inesperados. É uma fase de transformações, tanto físicas quanto psicológicas, marcada pela busca de uma identidade própria.

Aos pais cabe exercitar a compreensão, a paciência e o diálogo, lembrando que a base da educação que ofereceram aos filhos pequenos ficará gravada no íntimo deles.

A infância é período em que melhor se aprende, enquanto na adolescência se assimila o que foi ensinado.

Olhemos então para trás e busquemos a raiz do comportamento atual com o objetivo de encontrar soluções.

A criança, que sofreu desprezo ou desamor, se transforma em um adolescente inseguro e tem grandes chances de ser um adulto infeliz.

O jovem revoltado e violento de hoje pode ter sofrido incompreensão no passado.

Lembremos que a criança é como uma floreira que aguarda o plantio e o jovem é campo que já foi fecundado. A colheita será conforme a qualidade da semente.

É provável que Jesus esteja fazendo falta no coração e na mente desses jovens.

Oferecer instrução aos filhos é importante para a compreensão das questões práticas da vida, assim como a educação é essencial para uma vivência com dignidade.

A evangelização infanto-juvenil deve fazer parte da educação que ofertamos. Ela é tarefa que leva o Cristo aos corações infantis. É caminho para uma vida feliz.

Procuremos guiar nossos filhos de forma que compreendam a realidade do ser imortal. Conduzi-los com segurança é um desafio que devemos aceitar.

Preparemos, com urgência, as gerações novas, guiando-as para Jesus, a fim de que se construa, desde agora, o reino de Deus no mundo.

A criança evangelizada torna-se jovem digno, transformando-se em cidadão do amor, com expressiva bagagem de luz para toda a vida, mesmo que transitando em terras exteriores.

“Deixai que venham a mim as criancinhas” - solicitou Jesus. Tomemos dessa argila plástica, ainda não comprometida pelos erros atuais e modelemos com as mãos do amor o homem integral do porvir.

Evangelização espírita é sol nas almas, clareando o mundo inteiro sob as constelações das estrelas dos céus, que são os bem-aventurados do Senhor, empenhados em Seu nome, pela transformação urgente da Terra em um mundo de regeneração e paz.



Redação do Momento Espírita, com base no cap. 4,
do livro Terapêutica de emergência, de Espíritos diversos,
psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 16.2.2013.

Adolescentes antes da hora




Namorar, ficar, pedir para sair com a galera, tudo está programado para depois dos quatorze anos, imagina-se. Mas, pequenos a partir dos oito anos já estão assustando os adultos com atitudes que deveriam ser de adolescentes com mais de quinze anos.

Sempre há quem aplauda e ache bonito que as crianças cresçam rápido. Afinal, estamos no Terceiro Milênio, a era da informática e da aldeia global.

Contudo, tudo isso faz muito mal. Para os adultos e para as crianças. É que elas começam a atropelar seu compasso de amadurecimento, ao qual até já se deu um nome: síndrome da adolescência precoce.

É síndrome porque não é uma adolescência de fato. Até em torno dos onze anos de idade, os pequenos não têm a devida estrutura psíquica para processar emoções que surgem em situações complexas vividas pelos maiores.

Um beijo sensual, uma tragada, um gole de bebida alcoólica ricocheteia no corpo e não encontra lugar para se encaixar. Não dá prazer. Só faz com que eles se achem importantes.

Mas sem prazer no que fazem, sem dar conta do que estão sentindo, acabam desgastados e sobrecarregados. Abre-se o caminho para a depressão e a agressividade.

Tentando ser o que não podem, correm o risco de ficar sem nenhum lugar. É por isso que a atitude dos pais se faz muito importante.

Dos seis aos onze anos é a fase em que a criançada tem tudo para ser tranquila, não rebelde.

É a hora de copiar os pais, de se pentear, se vestir, andar e falar como eles. É a fase em que os meninos grudam nos pais e as meninas são a sombra das mães.

Isto contribui para que se definam como masculino e feminino. Cabe aos pais auxiliar os seus filhos nessa fase.

Sua tarefa é assumir o lugar de importância máxima para seus imitadores e admiradores. Devem falar de si, das suas atividades, o que fazem, o que sentem. Ensinar a sentir.

E, naturalmente, dar limites. Só pode ser referência para uma criança, quem cuida dela. E só quem coloca limites realmente cuida.

É assim que se mostra aos pequenos o valor real no mundo. O valor de quem merece ser cuidado e que tem um duro trabalho de amadurecimento para realizar, em seu tempo certo.

Sem essa posição, sem essa ajuda, as crianças ficam à mercê de comportamentos ilusórios e com a falsa impressão de que só serão bons se forem como os grandes, mesmo que esses apenas pareçam ser grandes.

Vão se sentir inferiores e fazer tudo para parecer crescidos, a fim de acompanhar os demais. Poderão ficar ousados ou poderão ficar com aquela impressão amarga de que estão perdendo todo seu tempo, que a juventude lhes está escorrendo através dos dedos, enquanto os outros estão, sim, gozando a vida.

* * *

A tarefa da educação começa no berço, e não mais tarde. A criança e o adolescente, embora possam parecer ingênuos, puros, quase nunca o são.

Podem trazer experiências nem sempre positivas de existências anteriores. Em razão disso, é indispensável a educação, no seu sentido mais amplo e profundo, a fim de que adquiram valores verdadeiros, reais, superando as dificuldades.

Para esse nobre objetivo são indispensáveis o amor, o conhecimento e a disciplina. Somente assim, serão gravadas nessas almas, que estão reescrevendo a própria história, as lições que as deverão acompanhar para sempre.



Redação do Momento Espírita, com base na Apresentação, do livro
Adolescência e vida, pelo Espírito Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo
Pereira Franco, ed. Leal e no artigo Adolescentes antes da hora, de Ivan
Capelatto e Ângela Minatti, do jornal Gazeta do Povo, de 8.8.1999.
Em 24.09.2012

Adolescência




A adolescência é a fase da vida entre a infância e a juventude.
A época se caracteriza por muitas mudanças físicas e psicológicas. Transformações internas e externas.
A menina se vê transformada em mulher, o menino percebe a barba a despontar, aparecem os pelos pelo corpo, a voz engrossa.
Em ambos os sexos, uma intensa atividade glandular, hormonal. Acentua-se a imitação e o grupo de amigos tende a crescer em importância.
A parte intelectiva se apresenta notável. A parte afetiva muito contraditória.
O adolescente apresenta insegurança. Às vezes se mostra com ar de superioridade para os adultos, de outras, com total dependência.
São anos difíceis para os jovens e também para os pais, em especial àqueles que na infância não disciplinaram o filho para receber alguns não.
É comum adolescentes de dezesseis anos, mesmo sem carteira de habilitação, serem vistos a dirigir seu próprio automóvel. Exigem que o pai lhes dê tudo o que desejam.
É a roupa da moda, os cd's em evidência, carro, moto, combustível. Vivem a irrealidade. O que pedem, conseguem.
Não importa que para isso os pais necessitem redobrar as horas de trabalho profissional ou se privem de alguns desejos e vontades.
E, ocorre que, se o adolescente for habituado a ter tudo que solicita, terá dificuldades na escola. Dificilmente aceitará uma nota mais baixa, uma reprimenda.
Se uma menina não lhe corresponder ao anseio afetivo, registrará ele muita dificuldade para tal aceitar.
Os pais normalmente alegam que o desrespeito, a irreverência, os abusos são da idade, que logo passa, que é a fase crítica, esquecidos de que a educação e a disciplina são de suma importância.
Adolescentes que saem para os programas com amigos, sem horário específico de volta. Talvez pela madrugada. Quiçá embriagados. Alguns, para evitarem dissabores de faltar dinheiro na hora de pagar a conta, já dispõem do seu cartão de crédito. Naturalmente, debitado à conta do pai.
Desrespeito que vai ao ponto de dizerem aos pais que estão por fora, são caretas, não se cansam de pagar o mico.
Será esse o relacionamento com liberdade que se idealiza? Que seres estamos formando para a sociedade?
De um modo geral, essas situações ocorrem porque, desde a infância, a criança não teve limites, não foi educada.
* * *
É importante que no lar cada qual tenha sua tarefa a executar, a atender. Que desde cedo se ensine à criança que nem tudo lhe é permitido.
Que só quem se esforça e realiza a sua parte tem direitos adquiridos. Não é exatamente essa a relação entre trabalho, produtividade e salário?
Se estamos vivendo a fase dos filhos adolescentes e reconhecemos a falta de controle, não esperemos o amanhã.
Comecemos hoje a estabelecer as novas normas. Com certeza, se na infância não nos preocupamos em passar os valores do respeito, da responsabilidade, tudo será mais difícil.
Impossível não. O jovem é também suscetível, sensível e justo.
O melhor é começar com uma longa conversa com os filhos. Uma reunião em que possamos expor as modificações que serão introduzidas na vida familiar.
Não esperemos uma aceitação passiva e total. Eles verão as medidas como retaliações, autoritarismo.
Por isso mesmo devemos estar muito seguros, firmes quanto ao que desejamos para nossos filhos.
Pode também acontecer que as mudanças ocorram melhor do que se imagina. Os jovens têm capacidade de analisar novas propostas, desde que apresentadas de forma coerente.
É bom pensar que muitas vezes brigamos, discutimos por bobagens, coisas sem importância. Simplesmente porque nos incomodam. São os cabelos longos, o brinco na orelha, tênis sujos. em contrapartida, nos descuidamos de aspectos reais da educação. Aqueles em que deveríamos intervir, para o bem dos nossos filhos e da sociedade em que vivemos.
* * *
A primeira visão acerca do que chamamos adolescência só teve lugar no século XVIII. A consciência da adolescência tornou-se um fenômeno generalizado só depois do final da Primeira Guerra Mundial.
Até o final do século XIX, a vida, mesmo nos países mais adiantados do mundo, era bem diferente da atual.
Meninas com onze anos eram enviadas para empregos como domésticas. Os meninos para as fazendas, fábricas ou minas. Ia-se da infância à fase adulta de um salto. Considere-se que a expectativa de vida era de menos de trinta anos, então.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. Os
laços que unem, do livro Uma vida para seu filho - Pais bons o
bastante, de Bruno Bettelheim, ed. Campus.
Em 28.12.2011.

Administrando o medo




Recente pesquisa revelou que muitos brasileiros vivem dominados pelo medo.

Medo que vai desde o de ser assaltado, perder um filho, descobrir que tem uma doença grave, não conseguir pagar as contas, a sofrer um acidente, ter um ataque cardíaco ou perder o parceiro.

Alguns dos entrevistados revelaram que nem saem de casa ou que, em casa, vivem em sobressalto, ao menor ruído estranho.

Naturalmente, vivemos num mundo onde há muita violência, maldade e dificuldades.

Mas é importante se pense um pouco, a fim de não se engrossar o rol dos que vivem sob a injunção do medo, perdendo anos preciosos das próprias vidas.

Assim, não sofra por antecipação. Algumas pessoas, sugestionáveis, assistem imagens violentas na TV e acham que fatos como aqueles poderão acontecer com alguém da sua família.

Tomar precauções é recomendável. A ninguém se pede que seja incauto, imprevidente.

Mas daí a ficar pensando, a toda hora, que algo terrível vai acontecer, será o mesmo que desistir da vida desde agora.

Pessoas que assim agem podem não se tornar vítimas de acidentes, de assaltos ou de doenças, mas do próprio medo.

Medo que as manterá infelizes, isoladas.

Por isso, nunca deixe que o medo o paralise. Faça o que tiver que fazer: ir à escola, às compras, ao templo religioso.

Se enfrentar medos e preocupações sozinho lhe parecer difícil, procure ajuda. Pode ser de um psicólogo, de grupos de pessoas que sofrem problemas semelhantes ou de um bom amigo.

E, em vez de se torturar com uma infinidade de contas a pagar, pense mais antes de adquirir o novo eletrodoméstico, de realizar a viagem dos seus sonhos, comprar a roupa da moda.

Aprenda a viver de acordo com os recursos que dispõe. Dê um passo de cada vez. Planeje férias com antecedência. Programe-se.

Não gaste tudo que ganha. E, muito menos, não gaste o que ainda não ganhou.

Não fique pensando em ganhar na loteria, na sena, na loto, no programa televisivo. Trabalhe e sinta orgulho de poder, com seu próprio esforço, ir adquirindo o de que necessita.

Em vez de ficar pensando na possibilidade de se manifestar essa ou aquela doença terrível, opte por fazer check-up anual.

Não espere para ir ao médico somente quando a dor o atormente, um problema de saúde se manifeste.

Procure o médico para saber se está tudo bem com você. Faça exames. Pratique exercícios sob supervisão.

Ande até a panificadora, em vez de ir sempre de carro. Pratique jardinagem, lave o carro.

Pense, sobretudo, positivamente: Deus protege a minha vida. Sou abençoado por Deus. Sou filho de Deus.

Trabalhe com alegria, ganhando as horas. Não transforme o seu ambiente profissional em um cárcere de torturas diárias.

Sorria mais. Faça amigos. Converse com os amigos. Estabeleçam, entre vocês, um cuidado mútuo.

Isso no que se refere a você, aos seus filhos, ao seu patrimônio.

Unidos seremos fortes.

Enfim, não tenha medo do medo. Ele é um legado saudável e protetor. Mas se torna um problema quando fica exagerado ou irracional.

* * *

Mantenha sua confiança em Deus, que governa o mundo e zela por sua vida.

De todos os medos o que mais o deve preocupar é o de perder a presente reencarnação, por comodismos e invigilância.

E para este, a melhor solução é realizar, a cada dia, o melhor de si, entregando-se a Deus.

Redação do Momento Espírita com base no artigo
Você tem medo de quê?, da Revista Seleções do
Reader´s Digest, de fevereiro de 2006.
Em 02.05.2008.

Adiante



Dia 29 de agosto de 2005. Uma tempestade tropical de escala 5 atinge a costa sudeste dos Estados Unidos da América.

Os ventos do furacão, que recebeu o nome de Katrina, atingiram 280 quilômetros por hora, e devastaram a histórica cidade de Nova Orleans.

Mais de um milhão de pessoas foram evacuadas. Seiscentas mil casas, na grande maioria de pessoas pobres, foram destruídas.

Um dos furacões mais destrutivos a ter atingido os Estados Unidos, deixou cerca de mil e trezentos mortos.

Muitos relatos se misturam ao do senhor J.R., habitante de 65 anos de idade, sem automóvel, cartão de crédito ou dinheiro poupado.

Ouvira pelo rádio, três dias antes, que a tempestade se aproximava, e que a desocupação era fortemente recomendada.

Mas, sem ter para onde ir, e com a esposa numa cadeira de rodas, a saída era quase impossível.

O Sr. J.R. decide permanecer e enfrentar a tempestade, a exemplo do que sempre fizera antes. Com estoque de comida e água, a família se sentia preparada.

Porém, na segunda-feira, a ruptura dos diques inundou em poucas horas aquela área, uma das regiões mais baixas de Nova Orleans.

A subida rápida da água forçou J.R. a tirar a mulher da cadeira de rodas, mas mesmo seus consideráveis 1 metro e 90 centímetros não foram suficientes para evitar a tragédia.

Escapando de seus braços, sua amada morre submersa.

* * *

Como seguir adiante depois de acontecimentos como este?

Como lidar com essas tragédias do cotidiano, sem nos deixar esmorecer e desistir?

Certamente, cada um deverá encontrar a sua maneira, o seu alicerce, mas possivelmente todos eles passem, mesmo que sem perceber, por um maior: a confiança em Deus.

Não falamos desse deus, com d minúsculo, que criamos ao longo do tempo, à nossa imagem e semelhança.

Não, esse deus está desgastado, cansado, e talvez em seus últimos dias...

Referimo-nos à Inteligência Suprema, o Criador, onipresente, bom e justo.

Referimo-nos ao Deus das Leis perfeitas, que não se vinga, que não é tomado pela ira em circunstância alguma, e que ama todas as Suas criaturas, não preterindo ninguém.

E neste amor supremo, que ainda escapa de nossa compreensão, estão desígnios, experiências, ensinamentos que, por vezes, ainda temos dificuldades em entender.

Esta inteligência está no controle de tudo. Nada acontece sem que Ele e Suas leis permitam.

Deus não Se esquece, nada deixa de lado, não privilegia.

Ele nos dá o que precisamos neste ou naquele momento, para que continuemos nosso crescimento moral e intelectual rumo à felicidade.

Seus desígnios, por vezes ainda nos deixam perplexos, mas se dermos a Ele uma chance, uma chance apenas, vislumbraremos suas razões logo adiante.

Veremos que Ele apenas atendia nossa necessidade íntima, como um Pai amoroso que faz sempre o melhor ao filho, mesmo este ainda não compreendendo Suas ações.

* * *

Adiante... É forçoso seguir adiante.

Estagnados no agora, sem horizonte, perde-se a razão de ir, de continuar.

Não esmoreças... Dá mais uma chance à vida e verás que ela e o Criador te reservam dias melhores...

Confia... E segue sempre... Adiante.


Redação do Momento Espírita.
Em 16.05.2008.

Acreditar e agir



Um viajante caminhava pelas margens de um grande lago de águas cristalinas e imaginava uma forma de chegar até o outro lado, onde era seu destino.

Suspirou profundamente enquanto tentava fixar o olhar no horizonte. A voz de um homem de cabelos brancos quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo. Era um barqueiro.

O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido de dois remos de madeira de carvalho.

O viajante olhou detidamente e percebeu o que pareciam ser letras em cada remo. Ao colocar os pés empoeirados dentro do barco, observou que eram mesmo duas palavras.

Num dos remos estava entalhada a palavra acreditar e no outro, agir.

Não podendo conter a curiosidade, perguntou a razão daqueles nomes originais dados aos remos.

O barqueiro pegou o remo, no qual estava escrito acreditar, e remou com toda força.

O barco, então, começou a dar voltas, sem sair do lugar em que estava.

Em seguida, pegou o remo em que estava escrito agir e remou com todo vigor.

Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante.

Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, movimentou-os ao mesmo tempo e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através das águas do lago, chegando calmamente à outra margem.

Então, o barqueiro disse ao viajante:

Este barco pode ser chamado de autoconfiança. E a margem é a meta que desejamos atingir.

Para que o barco da autoconfiança navegue seguro e alcance a meta pretendida, é preciso que utilizemos os dois remos, ao mesmo tempo, e com a mesma intensidade: agir e acreditar.

Não basta apenas acreditar, senão o barco ficará rodando em círculos. É preciso também agir, para movimentá-lo na direção que nos levará a alcançar a nossa meta.

Agir e acreditar. Impulsionar os remos com força e com vontade, superando as ondas e os vendavais e não esquecer que, por vezes, é preciso remar contra a maré.

* * *

Gandhi tinha uma meta: libertar seu povo do jugo inglês. Tinha também uma estratégia: a não-violência.

Sua autoconfiança foi tanta que atingiu a sua meta sem derramamento de sangue. Ele não só acreditou que era possível, mas também agiu com segurança.

Madre Teresa também tinha uma meta: socorrer os pobres abandonados de Calcutá. Acreditou e agiu, superando a meta inicial, socorrendo pobres do mundo inteiro.

Albert Schweitzer traçou sua meta e chegou lá. Deixou o conforto da cidade grande e se embrenhou na selva da África francesa para atender aos nativos, no mais completo anonimato.

Como estes, teríamos outros tantos exemplos de homens e mulheres que não só acreditaram, mas que tornaram realidade seus planos de felicidade e redenção particular.

* * *

E você? Está remando com firmeza para atingir a meta a que se propôs?

Se o barco da sua autoconfiança está parado no meio do caminho ou andando em círculos, é hora de tomar uma decisão e impulsioná-lo com força e com vontade.

Lembre que só você poderá acioná-lo utilizando-se dos dois remos: agir e acreditar.

* * *

Caso você ainda não tenha uma meta traçada ou deseje refazer a sua, considere alguns pontos:

verifique se os caminhos que irá percorrer não estarão invadindo a propriedade de terceiros;

se as águas que deseja navegar estão protegidas dos calhaus da inveja, do orgulho, do ódio;

e, antes de movimentar o barco, verifique se os remos não estão corroídos pelo ácido do egoísmo.

Depois de tomar todas estas precauções, siga em frente e boa viagem.



Redação do Momento Espírita, com base em texto veiculado pela Internet, atribuído a Aurélio Nicoladeli.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 5 e nos livros Momento Espírita v. 2 e 3, ed. Fep.
Em 11.10.2010.

Acomodação



O progresso da civilização trouxe consigo muitas facilidades, isso é incontestável.

As comunicações são instantâneas. Ficamos sabendo de tudo o que acontece no mundo, no momento em que está ocorrendo.

Com as conexões via Internet, qualquer pessoa pode navegar pelo mundo apenas acionando algumas teclas.

Jornais, revistas e outras tantas mercadorias chegam em nossas casas, sem que precisemos sair para comprá-los.

Através da TV por assinatura vários canais de televisão do mundo inteiro estão ao nosso alcance. Temos acesso a filmes, documentários e outras diversões apenas acionando alguns botões.

O serviço de entregas por telefone é bem aceito pela população. Proliferam as ofertas, ampliando-se cada vez mais a gama de produtos. São flores, CDs, remédios, alimentos e outras tantas mercadorias que chegam às nossas portas depois de ligeiro telefonema.

São as facilidades modernas que, sem dúvida alguma, o progresso trouxe para o conforto geral.

Todavia, enquanto nos beneficiamos com tais facilidades, nos permitimos a acomodação perniciosa.

A acomodação provoca o estacionamento do Espírito, enquanto ser imortal, criado para o progresso constante.

É ótimo que aproveitemos as facilidades que nos são oferecidas no campo material, mas é imprescindível que busquemos alcançar novos degraus no campo espiritual.

É importante que saibamos empregar bem o tempo que a tecnologia nos poupa.

Mais será cobrado de quem mais tiver. Essa é a afirmativa de Jesus.

Tudo o que nos chega como benefício, são recursos permitidos pela Divindade. Não são fins, mas meios de progresso.

Lutemos, pois, para que não sejamos dominados pela acomodação. Busquemos desenvolver a nossa Espiritualidade. Somos seres imortais e uma outra realidade nos aguarda logo mais, no além-túmulo.

Atentemos também para nossos filhos. Incentivando-os à leitura edificante, não os deixemos cair nas teias da acomodação, da preguiça, do marasmo.

Com todo nosso afeto mostremos a eles que fazemos parte de uma sociedade e que todos somos interdependentes.

Digamos a eles que, para a construção de uma sociedade melhor, é necessário que todos contribuam ativamente com seu tijolo de amor, ainda que pequeno, mas de suma importância.

Utilizar bem o tesouro das horas, em nosso e em benefício dos que nos rodeiam, eis a grande decisão que nos cabe.

Exercitar a alma, disciplinando as emoções, treinando a paciência, o perdão, a humildade, para que nosso perfil seja condizente com nossos anseios superiores.

Enfim, fazer luz em nossa intimidade e afastar as trevas da acomodação atrevida que teima em se fazer presente em nossas vidas.

* * *

Nosso pensamento não para nunca.

É por esse motivo que muitas pessoas, mesmo em idade avançada, ficam lúcidas. É porque nunca se deixaram levar pela acomodação paralisante.

Ao contrário, as que acham que nada mais podem fazer e dão por cumprida sua etapa, têm o cérebro atrofiado e a esclerose se manifesta mais cedo.

Assim, importa que mantenhamos o cérebro e as mãos sempre ocupados com coisas positivas para que a lucidez não nos abandone jamais.



Redação do Momento Espírita.
Em 25.04.2011.

Ações e palavras



O que você faz fala tão alto, que não consigo ouvir o que você diz.
O pensamento do filósofo e escritor americano, Ralph Waldo Emerson, precisa de nossa atenção.
Ações falam muito mais de nós mesmos do que nossas palavras.
Nossas palavras articulam-se por conveniência, por convenções e podem ser muito bem dissimuladas por força de nossa vontade, isto é, nem sempre contarão a verdade.
As ações mostram o que há em nossa alma, nossa índole, nossos valores.
É muito fácil falar. Mais difícil agir.
Francisco de Assis, missionário que resgatou a essência da mensagem do Cristo na Terra, em uma de suas pregações, afirmou:
A paz proclamada por vós com palavras deve habitar de modo mais abundante em vossos corações.
Isso significa que precisamos vivenciar algo para que nossas palavras e opiniões tenham peso. É a chamada autoridade moral.
Ela é válida na educação dos filhos, por exemplo.
Esses precisam identificar, nos genitores, o mesmo comportamento que estão exigindo deles.
Caso não encontrem essa referência, dificilmente seguirão qualquer recomendação educacional.
Os filhos poderão até obedecer, mas por medo, por ascendência da força, naquele momento.
Esse tipo de ascendência, porém, não dura. Tão logo se desvencilhem dos pais ou desenvolvam uma independência maior, voltarão a repetir as mesmas atitudes do ontem equivocado.
Resumindo: não aprenderam. Simplesmente atenderam a uma recomendação, por determinado tempo.
Por isso ouvimos falar na força do exemplo.
Os filhos copiam os pais em muitos aspectos. Imitam suas ações, sua forma de lidar com isso ou aquilo na vida. Seus conselhos só serão ouvidos se perceberem a força da autoridade moral embasando as falas.
A sabedoria de alguém não é medida pelo quanto ela sabe, conhece, mas pela qualidade de suas ações.
Vemos assim, no mundo, grandes vozes, de retórica impecável, mas cujas ações, no dia a dia, não condizem com seu verbo afiado.
Sobem nas tribunas do mundo, cantando a igualdade, a justiça, a defesa da população, quando em seu coração há apenas a busca pela satisfação de sua vaidade e egoísmo, tirando vantagem de tudo e de todos.
E muitas consciências de hoje estão tão doentes, tão obnubiladas, que nem sequer sentem algum tipo de remorso, culpa ou responsabilidade.
Despertarão mais tarde, possivelmente com a dor, com a força da lei de causa e efeito,colocando tudo de volta nos trilhos da alma descarrilhada.
Assim, cuidemos de nossas palavras e cuidemos de nossas ações.
O que fazemos fala muito mais alto do que aquilo que dizemos.
Lembremos do pensamento do filósofo:
O que você faz fala tão alto, que não consigo ouvir o que você diz.

Redação do Momento Espírita.
Em 15.8.2012.

Ações cruéis




Em se observando a enorme diversidade dos animais, descobre-se como o Pai Criador foi pródigo em tudo providenciar ao homem.

Os animais o vestem com suas peles, o alimentam com seus ovos, seu leite, sua carne. Aquecem-no com suas penas e lã.

Com alegria, lhe deliciam os ouvidos tecendo sinfonias nos ramos das árvores ou aprisionados em gaiolas douradas.

Retribuem as carícias com fidelidade extremada, até o sacrifício da própria vida.

Em uma palavra, servem a Humanidade. E o que tem feito o homem pelos animais?

Basta se viaje e nas rodovias se encontram à venda várias aves, especialmente periquitos e papagaios, recém retirados do seu habitat.

Repousam ali, sobre varas improvisadas, de asas cortadas para não alçarem vôo.

Se a necessidade ou a ignorância de quem as retira da mata pode ser entendida, como se desculpar o homem que passa no seu carro, a negócios ou a passeio, que pára e adquire o espécime?

Para quê? Para servir de brinquedo ao filho? Por quanto tempo? Para servir de adorno?

Logo, o bichinho está relegado a um canto, triste. Morre cedo, na maioria das vezes, porque longe da liberdade da sua mata, quando não por doenças que contrai pela alimentação inadequada que recebe.

De outras vezes, descobre-se nos centros urbanos, junto a piscinas improvisadas ou nos jardins, tartarugas e cágados.

Também retirados pequenos do seu local de origem, fazem a alegria da criançada... Por algum tempo.

Até crescerem tanto que deixam de ser engraçadinhos. Alimentados de forma incorreta, têm os seus cascos amolecidos e acabam sendo entregues, quando o são, a zoológicos da cidade.

Para que tirá-los da condição de liberdade?

Tudo isso demonstra a crueldade do ser humano. Crueldade que é fruto do seu egoísmo e do pouco valor que dá à vida.

Já se viu, muitas vezes, burros e mulas com os ossos à mostra, carregando fardos pesadíssimos. E ainda recebendo chicotadas. Fome, trabalho excessivo, maus tratos.

Patos e suínos confinados em espaços mínimos, em especial regime de engorda. Prisioneiros, para acelerar a hora de serem levados ao mercado consumidor ou produzirem a melhor iguaria para sofisticados pratos.

Onde o respeito à vida, à natureza, ao ser inferior?

Conscientizemo-nos de que somente alcançaremos a felicidade, quando não venhamos a distribuir o mal, seja para a Terra que nos agasalha, seja para os seres que a habitam.

Porque em síntese, toda agressão à natureza redunda em prejuízo para quem a pratica.

* * *

Carl Sagan, astrônomo americano, disse que se fôssemos visitados por um viajante espacial que examinasse nosso planeta, ele possivelmente concluiria que não há vida inteligente na Terra.

É que o hipotético viajante iria logo descobrir que os organismos dominantes da Terra estão destruindo suas fontes de vida.

A camada de ozônio, as florestas tropicais, o solo fértil, tudo sofrendo constantes ataques.

Redação do Momento Espírita, com base em artigo
publicado na Revista Veja de 27.03.1996.
Em 06.02.2009.

Acerto de contas



O Espiritismo ensina que as Leis Divinas encontram-se inscritas na Natureza e na consciência de cada Espírito.

Quem se dedica a observar o mundo que o cerca, consegue assimilar o teor de tais Leis.

Entretanto, o guia mais seguro é a consciência.

Durante um tempo, o egoísmo logra turvar a percepção do estatuto Divino.

O egoísmo origina-se da identificação com a matéria.

Quanto mais sintonizado com os prazeres materiais, mais dificuldade tem o homem em ser abnegado.

Nos círculos inferiores da vida, o egoísmo representa condição de sobrevivência.

Os seres irracionais ocupam-se apenas com sua manutenção.

Quando famintos, os animais carnívoros simplesmente caçam e matam.

Se não forem hábeis e insensíveis à dor da presa, eles e seus filhotes morrem.

Um egoísmo muito marcante constitui sinal de pouca evolução.

Quem só consegue pensar no próprio bem-estar assemelha-se às feras da Natureza.

O mundo gira em redor de seu umbigo e ele não se incomoda em causar dores e desgraças aos semelhantes.

Entretanto, os Espíritos são dotados de liberdade, consciência e vontade.

Conseqüentemente, respondem por seus atos.

Nenhum ser pode dar o que não tem.

Não se esperam ações éticas de animais, pois isso está além de sua capacidade.

Mas os homens têm condições de agir com base em parâmetros éticos.

Justamente por isso, seus atos não podem ser ditados exclusivamente pelo interesse pessoal.

Os eventos dolorosos da Natureza, como a dor, a doença e a morte, são universais.

Ninguém escapa de experimentá-los, em maior ou menor grau.

A inteligência humana possibilita assimilar a essencial igualdade de todos os homens.

Essa similaridade demonstra que ser solidário é um dever elementar em face da vida.

Com o passar dos séculos, gradualmente o Espírito se compenetra dessa realidade.

Tudo o que se refere à matéria é passageiro.

Entretanto, ele possui uma consciência que sempre o acompanha.

Cada dor deliberadamente causada ao próximo nela está registrada.

As leviandades, as humilhações infligidas, tudo isso gera dor e arrependimento.

Quanto mais vivido e experiente, mais responsável é o Espírito.

Chega um momento em que o ser espiritual se desgosta do mal.

Farto de erros e baixezas, ele decide trabalhar pelo próprio aperfeiçoamento.

Então, prepara para si encarnações nas quais possa se recompor com o passado.

Não mais se preocupa com facilidades materiais.

Riqueza, beleza e poder já não lhe interessam.

Quando assume elevadas posições é apenas no intuito de melhor trabalhar para o semelhante.

O que conta mesmo é a perspectiva de se recompor perante as Leis Divinas.

À medida que perde o gosto pelas coisas materiais, o egoísmo o abandona.

Desembaraçado de preocupações mesquinhas, caminha vigorosamente para a libertação e a transcendência.

Dificuldades não o assustam, pois sua meta é elevada e sua esperança no futuro é infinita.

* * *

Se você enfrenta graves problemas e dores, talvez tenha chegado o momento de seu acerto de contas.

Não complique a sua programada recuperação espiritual com preguiça e revolta.

Consciente da transitoriedade da vida na Terra, dedique-se a conquistar o que é permanente.

Combata seu egoísmo e esforce-se por agir no bem com desinteresse.

A melhor forma de ser feliz é cuidar da felicidade do próximo.

Pense nisso.



Equipe de Redação do Momento Espírita.

19 de ago. de 2013

Obsessões e Possessões



45. Pululam em torno da Terra os maus Espíritos, em conseqüência da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão que é um dos efeitos de semelhante ação, como as enfermidades e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada
como provação ou expiação e aceita com esse caráter.

Chama-se obsessão à ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diferentes, que vão desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais.

Ela oblitera todas as faculdades mediúnicas. Na mediunidade audiente e psicográfica, traduz-se pela obstinação de um Espírito em querer manifestar-se, com exclusão de qualquer outro.

46. Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral preciso é se contraponha uma força moral.

Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para garanti-la contra a obsessão, tem-se que fortalecer a alma; donde, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar por se melhorar a si próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de terceiros.

Necessário se torna este socorro, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não raro perde a vontade e o livre-arbítrio.

Quase sempre a obsessão exprime vingança tomada por um Espírito e cuja origem freqüentemente se encontra nas relações que o obsidiado manteve com o obsessor, em precedente existência.

Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele.

É daquele fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser eliminado por outro igualmente mau. Por meio de ação idêntica à do médium curador, nos casos de enfermidade, preciso se faz expelir um fluido mau com o auxílio de um fluido melhor.

Nem sempre, porém, basta esta ação mecânica; cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser inteligente, ao qual é preciso se possua o direito de falar com autoridade, que, entretanto,falece a quem não tenha superioridade moral.Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela.

Mas, ainda não é tudo: para assegurar a libertação da vítima, indispensável se torna que o Espírito perverso seja levado a renunciar aos seus maus desígnios; que se faça que o arrependimento desponte nele, assim como o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particularmente feitas com o objetivo de dar-lhe educação moral. Pode-se então ter a grata satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.

O trabalho se torna mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, para ele concorre com a vontade e a prece. Outro tanto não sucede quando, seduzido pelo Espírito que o domina, se ilude com relação às qualidades deste último e se compraz no erro a que é conduzido, porque, então, longe de a secundar, o obsidiado repele toda assistência. É o caso da fascinação, infinitamente mais rebelde sempre, do que a mais violenta subjugação.

Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso meio de que se dispõe para demover de seus propósitos maléficos o obsessor.

47. Na obsessão, o Espírito atua exteriormente, com a ajuda do seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado, ficando este afinal enlaçado por uma como teia e constrangido a proceder contra a sua vontade.

Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte.

A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão de que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção.

De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme o faria se estivesse vivo.

Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo o pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra; quem o haja conhecido em vida, reconhece-lhe a linguagem, a voz, os gestos e até a expressão da fisionomia.

48. Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado.

Isso se verifica sem qualquer perturbação ou incômodo, durante o tempo em que o Espírito encarnado se acha em liberdade, como no estado de emancipação, conservando-se este último ao lado do seu substituto para ouvi-lo.

Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força moral para lhe resistir.

Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares perigosos.

Servindo–se dos órgãos e dos membros do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa.

São numerosos os fatos deste gênero, em diferentes graus de intensidade, e não derivam de outra causa muitos casos de loucura. Amiúde, há também desordens patológicas,que são meras conseqüências e contra as quais nada adiantam os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa originária.

Dando a conhecer essa fonte donde provém uma parte das misérias humanas, o Espiritismo indica
o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente, deve ser tratado por meio da inteligência.

49. São as mais das vezes individuais a obsessão e a possessão; mas, não raro são epidêmicas. Quando sobre uma localidade se lança uma revoada de maus Espíritos, é como se uma tropa de inimigos a invadisse. Pode então ser muito considerável o número dos indivíduos atacados.

A Gênese
Capítulo XIV – Os Fluidos

Possessos



29. Vieram em seguida a Cafarnaum e Jesus, entrando primeiramente, em dia de sábado, na sinagoga, os instruía. — Admiravam-se da sua doutrina, porque ele os instruía como tendo autoridade e não como os escribas.

Ora, achava-se na sinagoga um homem possesso de um Espírito impuro, que exclamou: — Que há entre ti e nós, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: és o santo de Deus. — Jesus, porém, falando-lhe ameaçadoramente, disse: Cala-te e sai desse homem. — Então, o Espírito impuro, agitando o homem em violentas convulsões, saiu dele.

Ficaram todos tão surpreendidos que uns aos outros perguntavam: Que é isto? Que nova doutrina é esta? Ele dá ordem com império, até aos Espíritos impuros, e estes lhe obedecem. (S. Marcos, 1:21 a 27.)

30. Tendo eles saído, apresentaram-lhe um homem mudo, possesso do demônio. — Expulso o demônio o mudo falou e o povo, tomado de admiração, dizia: Jamais se viu coisa semelhante em Israel.

Mas os fariseus, ao contrário, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expele os demônios. (S. Mateus, 9:32 a 34.)

31. Quando ele foi vindo ao lugar onde estavam os outros discípulos, viu em torno destes uma grande multidão de pessoas e muitos escribas que com eles disputavam. — Logo que deu com Jesus, todo o povo se tomou de espanto e temor e correram todos a saudá-lo.

Perguntou ele então: Sobre que disputáveis em assembléia?
— Um homem, do meio do povo, tomando a palavra, disse: Mestre, trouxe-te meu filho, que está possesso de um Espírito mudo; — em todo lugar onde dele se apossa, atira-o por terra e o menino espuma, rilha os dentes e se torna todo seco. Pedi a teus discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam.

Disse-lhes Jesus: Oh! gente incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Trazei-mo. — Trouxeram-lho e ainda não havia ele posto os olhos em Jesus, e o Espírito entrou a agitá-lo violentamente; ele caiu no chão e se pôs a rolar espumando.

Jesus perguntou ao pai do menino: Desde quando isto lhe sucede? — Desde pequenino, diz o pai. — E o Espírito o tem lançado, muitas vezes, ora à água, ora ao fogo, para fazê-lo perecer; se alguma coisa puderes, tem compaixão de nós e socorre-nos.

Respondeu-lhe Jesus: Se puderes crer, tudo é possível àquele que crê. — Logo exclamou o pai do menino, banhado em lágrimas: Senhor, creio, ajuda-me na minha incredulidade.

Jesus, vendo que o povo acorria em multidão, falou em tom de ameaça ao Espírito impuro, dizendo-lhe: Espírito surdo e mudo sai desse menino e não entres mais nele. — Então, o Espírito,
soltando grande grito e agitando o menino em violentas convulsões, saiu, ficando como morto o menino, de sorte que muitos diziam que ele morrera. — Mas Jesus, tomando-lhe as mãos e amparando-o, fê-lo levantar-se.

Quando Jesus voltou para casa, seus discípulos lhe perguntaram, em particular: Por que não pudemos nós expulsar esse demônio?
— Ele respondeu: Os demônios desta espécie não podem ser expulsos senão pela prece e pelo jejum. (S. Marcos, 9:13 a 28.)

32. Apresentaram-lhe então um possesso cego e mudo e ele o curou, de modo que o possesso começou a falar e a ver: — Todo o povo ficou presa de admiração e dizia: Não é esse o filho de David?

Mas os fariseus, isso ouvindo, diziam: Este homem expulsa os demônios com o auxílio de Belzebu, príncipe dos demônios.

Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Todo reino que se dividir contra si mesmo será arruinado e toda cidade ou casa que se divide contra si mesma não pode subsistir. — Se Satanás expulsa a Satanás, ele está dividido contra si mesmo, como, pois, o seu reino poderá subsistir? — E, se é por Belzebu que eu expulso os demônios, por quem os expulsarão vossos filhos?
Por isso, eles próprios serão os vossos juízes. — Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós. (S. Mateus, 12:22 a 28.)

33. Com as curas, as libertações de possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus. Alguns há, entre os fatos dessa natureza, como os acima narrados, no nº 30, em que a possessão não é evidente. Provavelmente, naquela época, como ainda hoje acontece, atribuía-se à influência dos demônios todas as enfermidades cuja causa se não conhecia, principalmente a mudez, a epilepsia e a catalepsia.

Outros há, todavia, em que nada tem de duvidosa a ação dos maus Espíritos, casos esses que guardam com os de que somos testemunhas tão frisante analogia, que neles se reconhecem todos os sintomas de tal gênero de afecção.

A prova da participação de uma inteligência oculta, em tal caso, ressalta de um fato material: são as múltiplas curas radicais obtidas, nalguns centros espíritas, pela só evocação e doutrinação dos Espíritos obsessores, sem magnetização, nem medicamentos e, muitas vezes, na ausência do paciente e a grande distância deste.

A imensa superioridade do Cristo lhe dava tal autoridade sobre os Espíritos imperfeitos, chamados então demônios, que lhe bastava ordenar se retirassem para que não pudessem resistir a essa injunção. (Cap. XIV, nº 46.)

34. O fato de serem alguns maus Espíritos mandados meter- se em corpos de porcos é o que pode haver de menos provável. Aliás, seria difícil explicar a existência de tão numeroso rebanho de porcos num país onde esse animal era tido em horror e nenhuma utilidade oferecia para a alimentação.

Um Espírito, porque mau, não deixa de ser um Espírito humano, embora tão imperfeito que continue a fazer mal, depois de desencarnar, como o fazia antes, e é contra todas as leis da Natureza que lhe seja possível fazer morada no corpo de um animal.

No fato, pois, a que nos referimos, temos que reconhecer a existência de uma dessas ampliações tão comuns nos tempos de ignorância e de superstição; ou, então, será uma alegoria destinada a caracterizar os pendores imundos de certos Espíritos.

35. Parece que, ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os obsidiados e os possessos, donde a oportunidade que ele teve de curar a muitos. Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e causado uma epidemia de possessões. (Cap. XlV, nº 49.)

Sem apresentarem caráter epidêmico, as obsessões individuais são muitíssimo freqüentes e se apresentam sob os mais variados aspectos que, entretanto, por um conhecimento amplo do Espiritismo, facilmente se descobrem. Podem, não raro, trazer conseqüências danosas à saúde, seja agravando afecções orgânicas já existentes, seja ocasionando-as.

Um dia, virão a ser, incontestavelmente, arroladas entre as causas patológicas que requerem, pela sua natureza especial, especiais meios de tratamento. Revelando a causa do mal, o Espiritismo rasga nova senda à arte de curar e fornece à Ciência meio de alcançar êxito onde até hoje quase sempre vê malogrados seus esforços, pela razão de não atender à primordial causa do mal. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)

36. Os fariseus diziam que por influência dos demônios é que Jesus expulsava os demônios; segundo eles, o bem que Jesus fazia era obra de Satanás; não refletiam que, se Satanás expulsasse a si mesmo, praticaria rematada insensatez.

É de notar-se que os fariseus daquele tempo já pretendessem que toda faculdade transcendente e, por esse motivo, reputada sobrenatural, era obra do demônio, pois que, na opinião deles, era do demônio que Jesus recebia o poder de que dispunha.

É esse mais um ponto de semelhança daquela com a época atual e tal doutrina é ainda a que a Igreja procura fazer que prevaleça hoje, contra as manifestações espíritas.

A Gênese
Capítulo XV – Os Milagres do Evangelho

A Geração Nova



27. Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem.

Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso.

Irão expiar o endurecimento de seus corações, uns em mundos inferiores, outros em raças terrestres ainda atrasadas, equivalentes a mundos daquela ordem, aos quais levarão os conhecimentos que hajam adquirido, tendo por missão fazê-las avançar. Substituí-los-ão Espíritos melhores, que farão reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade.

A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas.

Tudo, pois, se processará exteriormente, como sói acontecer, com a única, mas capital diferença de que uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí não mais tornarão a encarnar. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem.

Muito menos, pois, se trata de uma nova geração corpórea, do que de uma nova geração de Espíritos. Sem dúvida, neste sentido é que Jesus entendia as coisas, quando declarava: “Digo-vos, em verdade, que esta geração não passará sem que estes fatos tenham ocorrido.” Assim, decepcionados ficarão os que contem ver a transformação operar-se por efeitos sobrenaturais e maravilhosos.

28. A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes são peculiares.

Têm idéias e pontos de vista opostos as duas gerações que se sucedem. Pela natureza das disposições morais, porém, sobretudo das disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.

Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior.

Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração.

O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, em primeiro lugar, a revolta contra Deus, pelo se negarem a reconhecer qualquer poder superior aos poderes humanos; a propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos anti-fraternos de egoísmo, de orgulho, de inveja, de ciúme; enfim, o apego a tudo o que é material: a sensualidade, a cupidez, a avareza.

Desses vícios é que a Terra tem de ser expurgada pelo afastamento dos que se obstinam em não emendar-se; porque são incompatíveis com o reinado da fraternidade e porque o contacto com eles constituirá sempre um sofrimento para os homens de bem.

Quando a Terra se achar livre deles, os homens caminharão sem óbices para o futuro melhor que lhes está reservado, mesmo neste mundo, por prêmio de seus esforços e de sua perseverança, enquanto esperem que uma depuração mais completa lhes abra o acesso aos mundos superiores.

29. Não se deve entender que por meio dessa emigração de Espíritos sejam expulsos da Terra e relegados para mundos inferiores todos os Espíritos retardatários. Muitos, ao contrário, aí voltarão, porquanto muitos há que o são porque cederam ao arrastamento das circunstâncias e do exemplo.

Nesses, a casca é pior do que o cerne. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos prejuízos do mundo corporal, eles, em sua maioria, verão as coisas de maneira inteiramente diversa daquela por que as viam quando em vida, conforme os múltiplos casos que conhecemos.

Para isso, têm a auxiliá-los Espíritos benévolos que por eles se interessam e se dão pressa em esclarecê-los e em lhes mostrar quão falso era o caminho que seguiam. Nós mesmos, pelas nossas preces e exortações, podemos concorrer para que eles se melhorem, visto que entre mortos e vivos há perpétua solidariedade.

É muito simples o modo por que se opera a transformação, sendo, como se vê, todo ele de ordem moral, sem se afastar em nada das leis da Natureza.

30. Sejam os que componham a nova geração Espíritos melhores, ou Espíritos antigos que se melhoraram, o resultado é o mesmo. Desde que trazem disposições melhores, há sempre uma renovação.

Assim, segundo suas disposições naturais, os Espíritos encarnados formam duas categorias: de um lado, os retardatários, que partem; de outro, os progressistas, que chegam. O estado dos costumes e da sociedade estará, portanto, no seio de um povo, de uma raça, ou do mundo inteiro, em relação com aquela das duas categorias que preponderar.

31. Uma comparação vulgar ainda melhor dará a compreender o que se passa nessa circunstância. Figuremos um regimento composto na sua maioria de homens turbulentos e indisciplinados, os quais ocasionarão nele constantes desordens que a lei penal terá por vezes dificuldades em reprimir.

Esses homens são os mais fortes, porque mais numerosos do que os outros. Eles se amparam, animam e estimulam pelo exemplo. Os poucos bons nenhuma influência exercem; seus conselhos são desprezados; sofrem com a companhia dos outros, que os achincalham e maltratam. Não é essa uma imagem da sociedade atual?

Suponhamos que esses homens são retirados um a um, dez a dez, cem a cem, do regimento e substituídos gradativamente por iguais números de bons soldados, mesmo por alguns dos que, já tendo sido expulsos, se corrigiram. Ao cabo de algum tempo, existirá o mesmo regimento, mas transformado. A boa ordem terá sucedido à desordem.

32. As grandes partidas coletivas, entretanto, não têm por único fim ativar as saídas; têm igualmente o de transformar mais rapidamente o espírito da massa, livrando-a das más influências e o de dar maior ascendente às idéias novas.

Por estarem muitos, apesar de suas imperfeições, maduros para a transformação, é que muitos partem, a fim de apenas se retemperarem em fonte mais pura. Enquanto se conservassem no mesmo meio e sob as mesmas influências, persistiriam nas suas opiniões e nas suas maneiras de apreciar as coisas. Uma estada no mundo dos Espíritos bastará para lhes descerrar os olhos, por isso que aí vêem o que não podiam ver na Terra.

O incrédulo, o fanático, o absolutista, poderão, conseguintemente, voltar com idéias inatas de fé, tolerância e liberdade. Ao regressarem, acharão mudadas as coisas e experimentarão a influência do novo meio em que houverem nascido. Longe de se oporem às novas idéias, constituir-se-ão seus auxiliares.

33. A regeneração da Humanidade, portanto, não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Essa modificação se opera em todos quantos lhe estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo. Assim, nem sempre os que voltam são outros Espíritos; são com freqüência os mesmos Espíritos, mas pensando e sentindo de outra maneira.

Quando insulado e individual, esse melhoramento passa despercebido e nenhuma influência ostensiva alcança sobre o mundo. Muito outro é o efeito, quando a melhora se produz simultaneamente sobre grandes massas, porque, então, conforme as proporções que assuma, numa geração, pode modificar profundamente as idéias de um povo ou de uma raça.

É o que quase sempre se nota depois dos grandes choques que dizimam as populações. Os flagelos destruidores apenas destroem corpos, não atingem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo corporal e o mundo espiritual e, por conseguinte, o movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados. É de notar-se que em todas as épocas da História, às grandes crises sociais se seguiu uma era de progresso.

34. Opera-se presentemente um desses movimentos gerais, destinados a realizar uma remodelação da Humanidade. A multiplicidade das causas de destruição constitui sinal característico dos tempos, visto que elas apressarão a eclosão dos novos germens.

São as folhas que caem no outono e às quais sucedem outras folhas cheias de vida, porquanto a Humanidade tem suas estações, como os indivíduos têm suas várias idades. As folhas mortas da Humanidade caem batidas pelas rajadas e pelos golpes de vento, porém, para renascerem mais vivazes sob o mesmo sopro de vida, que não se extingue, mas se purifica.

35. Para o materialista, os flagelos destruidores são calamidades carentes de compensação, sem resultados aproveitáveis, pois que, na opinião deles, os aludidos flagelos aniquilam os seres para sempre.

Para aquele, porém, que sabe que a morte unicamente destrói o envoltório, tais flagelos não acarretam as mesmas conseqüências e não lhe causam o mínimo pavor; ele lhes compreende o objetivo e não ignora que os homens não perdem mais por morrerem juntos, do que por morrerem isolados, dado que, duma forma ou doutra, a isso hão de todos sempre chegar.

Os incrédulos rirão destas coisas e as qualificarão de quiméricas; mas, digam o que disserem, não fugirão à lei comum; cairão a seu turno, como os outros, e, então, que lhes acontecerá? Eles dizem: Nada!

Viverão, no entanto, a despeito de si próprios e se verão, um dia, forçados a abrir os olhos.

A Gênese
Fonte: A Gênese

Impossibilidade Material das Penas Eternas



18. Até aqui, só temos combatido o dogma das penas eternas com o raciocínio. Demonstremo-lo agora em contradição com os fatos positivos que observamos, provando-lhe a impossibilidade.

Por este dogma a sorte das almas, irrevogavelmente fixada depois da morte, é, como tal, um travão definitivo aplicado ao progresso.

Ora, a alma progride ou não? Eis a questão: — Se progride, a eternidade das penas é impossível.

E poder-se-á duvidar desse progresso, vendo a variedade enorme de aptidões morais e intelectuais existentes sobre a Terra, desde o selvagem ao homem civilizado, aferindo a diferença apresentada por um povo de um a outro século? Se se admite não ser das mesmas almas, é força admitir que Deus criou almas em todos os graus de adiantamento,segundo os tempos e lugares, favorecendo umas e destinando outras a perpétua inferioridade — o que seria incompatível com a justiça, que, aliás, deve ser igual para todas as criaturas.

19. É incontestável que a alma atrasada moral e intelectualmente,como a dos povos bárbaros, não pode ter os mesmos elementos de felicidade, as mesmas aptidões para gozar dos esplendores do Infinito, como a alma cujas faculdades estão largamente desenvolvidas. Se, portanto, estas almas não progredirem, não podem em condições mais favoráveis gozar na eternidade senão de uma felicidade, por assim dizer, negativa.

Para estar de acordo com a rigorosa justiça, chegaremos, pois, à conclusão de que as almas mais adiantadas são as atrasadas de outro tempo, com progressos posteriormente realizados. Mas, aqui atingimos a questão magna da pluralidade das existências como meio único e racional de resolver a dificuldade. Façamos abstração, porém,dessa questão e consideremos a alma sob o ponto de vista de uma única existência.

20. Figuremos um rapaz de 20 anos, desses que comumente se encontram, ignorante, viciado por índole, céptico,negando sua alma e a Deus, entregue à desordem e cometendo toda sorte de malvadeza. Esse rapaz encontra-se, depois,num meio favorável, melhor; trabalha, instrui-se, corrige-se gradualmente e acaba por tornar-se crente e piedoso.Eis aí um exemplo palpável do progresso da alma durante a vida, exemplo que se reproduz todos os dias. Esse homem morre em avançada idade, como um santo, e naturalmente certa se lhe torna a salvação. Mas qual seria a sua sorte se um acidente lhe pusesse termo à existência, trinta ou quarenta anos mais cedo? Ele estava nas condições exigidas para ser condenado, e, se o fosse, todo o progresso se lhe
tornaria impossível.

E assim, segundo a doutrina das penas eternas, teremos um homem salvo somente pela circunstância de viver mais tempo, circunstância, aliás, fragilíssima, uma vez que um acidente qualquer poderia tê-la anulado fortuitamente. Desde que sua alma pôde progredir em um tempo dado, por que razão não mais poderia progredir depois da morte, se uma causa alheia à sua vontade a tivesse impedido de fazê-lo durante a vida? Por que lhe recusaria Deus os meiosde regenerar-se na outra vida, concedendo-lhos nesta? Neste caso, o arrependimento veio, posto que tardio; mas se desde o momento da morte se impusesse irrevogável condenação,
esse arrependimento seria infrutífero por todo o sempre, como destruídas seriam as aptidões dessa alma para o progresso, para o bem.

21. O dogma da eternidade absoluta das penas é, portanto,incompatível com o progresso das almas, ao qual opõe uma barreira insuperável. Esses dois princípios destroem-se, e a condição indeclinável da existência de um é o aniquilamento do outro. Qual dos dois existe de fato? A lei do progresso é evidente: não é uma teoria, é um fato corroborado pela experiência: é uma lei da Natureza, divina, imprescritível. E, pois, que esta lei existe inconciliável com a outra, é porque a outra não existe. Se o dogma das penas eternas existisse verdadeiramente, Santo Agostinho, S. Paulo e tantos outros jamais teriam visto o céu, caso morressem antes de realizar o progresso que lhes trouxe a conversão.

A esta última asserção respondem que a conversão dessas santas personagens não é um resultado do progresso da alma, porém, da graça que lhes foi concedida e de que foram tocadas.

Porém, isto é simples jogo de palavras. Se esses santos praticaram o mal e depois o bem, é que melhoraram; logo,progrediram. E por que lhes teria Deus concedido como especial favor a graça de se corrigirem? Sim, por que a eles e não a outros? Sempre, sempre a doutrina dos privilégios,incompatível com a justiça de Deus e com seu igual amor por todas as criaturas.

Segundo a Doutrina Espírita, de acordo mesmo com as palavras do Evangelho, com a lógica e com a mais rigorosa justiça, o homem é o filho de suas obras, durante esta vida e depois da morte, nada devendo ao favoritismo: Deus o recompensa pelos esforços e pune pela negligência, isto por tanto tempo quanto nela persistir.

O Céu e O Inferno
Primeira Parte
Capítulo VI – Doutrina das Penas Eternas