1 de mai. de 2012

Curas de Obsessões (Parte 2 de 2)




Os casos de obsessão são de tal modo frequentes que não há nenhum exagero em dizer que nas casas de alienados há mais da metade deles que não têm senão a aparência da loucura, e sobre os quais a medicação comum é, por isto mesmo, impotente.

O Espiritismo nos mostra na obsessão uma das causas perturbadoras do organismo, e nos dá, ao mesmo tempo, os meios de remediá-la: aí está um de seus benefícios. Mas como essa causa pode ser reconhecida se não for pelas evocações? As evocações, são, pois, boas para alguma coisa, o que quer que digam delas seus detratores.

É evidente que aqueles que não admitem nem a alma individual, nem a sua sobrevivência, ou que, se as admite, não se dão conta do estado do Espírito depois da morte, devem olhar a intervenção dos seres invisíveis em semelhantes circunstâncias, como uma quimera; mas o fato brutal do mal e das curas aí está.

Poder-se-ia colocar à conta da imaginação as curas operadas à distância, sobre pessoas que jamais se viram, sem emprego de nenhum agente material qualquer. A doença não pode ser atribuída à prática do Espiritismo, uma vez que ela atinge mesmo aqueles que nele não crêem, e crianças que dele não têm nenhuma ideia.

Não há, portanto, aqui nada de maravilhoso, mas efeitos naturais que existiram em todos os tempos, que não se compreendiam então, e que se explicam da maneira mais simples, agora que se conhecem as leis em virtude das quais se produzem.

Não se vêem, entre os vivos, seres maus atormentando outros mais fracos, até torná-los doentes, fazê-los morrer mesmo, e isto sem outro motivo senão o desejo de fazer o mal? Há dois meios de retornar a paz à vítima: subtraí-la da autoridade, à sua brutalidade, ou desenvolver nela os sentimentos do bem.

O conhecimento que temos agora do mundo invisível no-lo mostra povoado dos mesmos seres que viveram sobre a Terra, uns bons, os outros maus. Entre estes últimos, há os que se comprazem ainda no mal, em consequência de sua inferioridade moral e que não se despojaram ainda de seus instintos perversos; estão em nosso meio como quando vivos, com a única diferença de que em lugar de terem um corpo material visível, têm um corpo fluídico invisível; mas não são, por isto, menos os mesmos homens, no sentido moral pouco desenvolvido, procurando sempre as ocasiões de fazer o mal, se obstinando sobre aqueles que lhes dão presa e que acabam submetendo-se à sua influência; obsessores encarnados que eram, são obsessores desencarnados, tanto mais perigosos porque agem sem serem vistos.

Afastá-los pela força não é coisa fácil, tendo em vista que não se pode prendê-los pelo corpo; o único meio de dominá-los é o ascendente moral com a ajuda do qual, pelo raciocínio e os sábios conselhos, chega-se a torná-los melhores, por isto são mais acessíveis no estado de Espírito do que no estado corpóreo. Desde o instante em que são conduzidos a renunciarem voluntariamente a atormentar, o mal desaparece, se esse mal é o fato de uma obsessão; ora, compreende-se que não são nem as duchas, nem os remédios administrados ao doente que podem agir sobre o Espírito obsessor.

Eis todo o segredo dessas curas, para as quais não há nem palavras sacramentais, nem fórmulas cabalísticas: conversa-se com o Espírito desencarnado, se o moraliza, educa-o, como teria sido feito quando de sua vida. A habilidade consiste em saber prendê-lo segundo seu caráter, a dirigir com tato as instruções que são dadas, como o faria um instrutor experimentado.

Toda a questão se resume a isto: Há, sim ou não, Espíritos obsessores? A isto responde-se o que dissemos mais acima: Os fatos materiais aí estão.

Pergunta-se, às vezes, por que Deus permite aos maus Espíritos atormentarem os vivos. Poder-se-ia com tanto de razão perguntar por que permite aos vivos de se atormentarem entre si.

Perde-se muito de vista a analogia, as relações e a conexão que existem entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual, que se compõe dos mesmos seres sob dois estados diferentes; aí está a chave de todos esses fenômenos reputados sobrenaturais.

Não é preciso mais se espantar com as obsessões do que com as doenças e outros males que afligem a Humanidade; elas fazem parte das provas e das misérias que se prendem à inferioridade, do meio onde nossas imperfeições nos condenam a viver, até que estejamos suficientemente melhores para merecer dele sair. Os homens sofrem neste mundo as consequências de suas imperfeições, porque se fossem mais perfeitos, aqui não estariam.

Fonte: Revista Espírita, 1866 – Allan Kardec

Nenhum comentário:

Postar um comentário